Quantas vezes na vida já terás utilizado a expressão – “não sei” – como resposta a alguma pergunta, escolha ou tomada de decisão??
Com este artigo tenho a intenção de explorar o “não sei” profundo, aquele “não sei” dos momentos cruciais, quando damos por nós a refletir sobre a vida, perante tomadas de decisão, perante escolhas, ou perante novos caminhos, e percebemos nesses momentos, que o que reina em nós é a incerteza, a indecisão e a confusão. Então a resposta “não sei” pode ser perfeitamente adequada, porque na verdade não sentimos que temos ainda clareza suficiente para responder de forma diferente, para decidir, para escolher, ou para assumir, algum tipo de responsabilidade pela resposta, ou escolha, que possamos dar naquele momento.
De um modo geral, a resposta “não sei” pode ser muitas vezes a resposta mais sensata a uma dada situação. O “não sei” dá-nos mais espaço e tempo para refletir sobre as coisas, permite-nos olhar a situação de diferentes ângulos e perspetivas, leva-nos à observação e à introspeção. Um autêntico “não sei” traz a pureza do vazio, quando não sabemos algo verdadeiramente é porque estamos a gerar espaço para que o possível conhecimento surja. O “não sei” de hoje pode transformar-se numa enorme certeza de “já sei o que quero” amanhã. A resposta pode começar a partir do “não sei”, pois nesse espaço vazio de desapego e de abertura, podemos permitir que o “sei” se instale calma e serenamente.
Sei, pela minha própria vivência, que estes processos não são assim tão simples e lineares. Um “não sei” não tão consciente, ou usado de forma sistemática, pode ser um indicador de confusão mental, de ansiedade, de stress, de fuga ao momento presente, pode ser uma forma de fugir ao assumir de responsabilidades, uma fuga ao enraizamento, etc. Um “não sei” dito da boca para fora, pode ser um indicador de não querer dizer, ou assumir, uma determinada verdade, querer adiar as respostas, querer adiar o confronto com o que é, e fugir ao que está a acontecer. É fundamental desenvolvermos uma observação sustentada de nós mesmos, para percebermos de onde vêm verdadeiramente as nossas respostas.
Neste caso, podemos perguntarmo-nos sempre a nós mesmos:
“De onde vem agora este ‘não sei’? É autêntico? Preciso de mais tempo para encontrar em mim uma resposta? Ou, estou a fugir a algo? Do que é que tenho medo? O que é que não sei se quero, ou não, assumir? Porque é que esta escolha/ decisão me traz ansiedade? Porque é que me assusta tanto assumir a minha verdade aqui? Se sinto que ‘não sei’ mesmo, porque é que esta dúvida me causa desconforto? O que esconde este meu ‘não sei’? Que dimensões mais inconscientes e secretas em mim podem estar a ser ativadas?”
Estas perguntas podem ser cruciais nestas situações, o autodiagnóstico daquilo que dizemos, pensamos, sentimos ou fazemos, é fundamental a cada momento. Seja nesta circunstância ou noutras, colocarmo-nos as questões certas, pode levar-nos ao encontro das respostas mais autênticas em nós.
Mas como escutar essas respostas?
Essas respostas sentem-se no corpo, o nosso corpo não mente, o nosso corpo manifesta sempre a verdade de cada instante. Relembra, quando estamos nervosos o corpo tem reações especificas, quando estamos zangados o corpo reage, quando nos envergonhamos também sentimos, quando mentimos sabemos que o nosso corpo não mente.
No corpo temos sempre as respostas para tudo, e aprender a escutá-las e reconhecê-las é um treino diário que podemos fazer connosco mesmos. Diariamente faço uma prática meditativa de scan pelo meu corpo, fecho os olhos, coloco-me numa posição confortável, respiro de forma consciente, e faço perguntas a mim mesma, deixando que as sensações do meu corpo me respondam a essas mesmas questões. Outras vezes, coloco a minha atenção numa zona especifica do corpo e aguardo a resposta às perguntas: “Como te sentes? O que precisas? Ao que devo dar atenção agora?”, e essa parte do corpo reage e responde.
Estas práticas são uma das fundamentações do mindfulness, da prática de atenção plena. Este diálogo e reconhecimento de mim através do meu corpo, pode usar-se em tudo, para tudo e em qualquer circunstância.
Relativamente ao “não sei”, é importante aprendermos a perceber se essa dúvida é a resposta mais autêntica e adequada àquele momento presente, ou, se é uma resposta-padrão inconsciente que estamos a usar como fuga a algo.
Uma coisa eu tenho aprendido com a minha prática de observação do “não sei”, seja autêntico ou inconsciente, traz consigo uma dimensão de medo. Tenho observado que o medo se esconde atrás do “não sei”, o medo do desconhecido, o medo do novo, o medo da escolha, o medo da decisão, o medo de escolher errado, o medo de falhar, o medo de assumir, o medo de arriscar, etc, etc… Existe um receio latente quando escutamos a expressão “não sei”. Porque na maioria das vezes quando eu “não sei” é porque está a existir uma resistência à escolha, à tomada de partido, à tomada de decisão, uma resistência por vezes a dizer realmente o que penso e sinto. E o “não sei” é a resposta de fuga mais fácil de utilizar. Não tem nada de errado nisso, a minha observação é no sentido de pudermos, cada um de nós, ficarmos mais despertos para esta realidade, e estarmos mais atentos aos momentos em que dizemos “não sei” a algo.
Quando nos colocamos estas questões, temos a oportunidade de avaliarmos e percebermos que dimensões em nós estão a ser tocadas e mexidas por determinada situação, que nos leva a sentir que “não sei” a resposta, que “não sei” o que fazer, que “não sei” para onde ir, que “não sei” o que quero, que “não sei” o que sinto… Se calhar preciso mesmo de tempo e espaço para perceber o caminho. Mas então, assumo que ainda “não sei”, porque há uma dimensão em mim que precisa ser observada e explorada, e porque se calhar há uma dimensão em mim que tem medo de encontrar a resposta àquela questão. Então preciso parar.
E o que fazer a seguir?
Vou partilhar contigo a estratégia que uso comigo mesma, e decidi chamar-lhe:
8 Passos para a Decisão – Do “Não Sei” à Verdade:
1) Reconhecer e Aceitar que “Não Sei…ainda” – Reconhecer e aceitar, com autocompaixão, que ainda não sei a resposta, seja qual for o motivo. É importante não me julgar, nem criticar perante a minha própria dúvida, pois é humano e é natural, duvidar, ficar indeciso, não saber… Igualmente se escuto um “não sei” de alguém, quando quero muito uma resposta, devo aceitar e acolher a resposta do outro, aceitar que no seu tempo terá talvez outra resposta diferente, mas agora é “não sei”, e o melhor a fazer é aceitar essa resposta tal como ela é.
2) Espaço e Silêncio – O melhor lugar para encontrarmos as respostas mais autênticas é através do silêncio, e esse silêncio deve ser criado por nós deliberadamente, como uma escolha. Criarmos um espaço tranquilo e sereno onde possamos estar em introspeção, onde possamos escutar o silêncio e compreender as respostas através de um estado de lucidez e de maior serenidade. É fundamental diariamente termos esse espaço sagrado, onde convidamos o silêncio a entrar nas nossas vidas.
3) Respirações Conscientes – Quando me recolho no espaço de silêncio que escolhi e que criei para o efeito, início a prática com respirações conscientes, foco-me na minha respiração, e respiro calma e serenamente cada ciclo, cada movimento, cada inspiração, cada expiração… faço-o durante alguns minutos, até sentir que estou mais calm@, mais seren@, mais atent@, mais presente, mais despert@.
4) Observar – Em maior presença e serenidade começo então a observar o que está a acontecer, trago para o foco da minha atenção o tema, a circunstância, a decisão, o sentimento, o que for que me tenha trazido à dúvida, ao balanço, à confusão, e começo a observar isso em mim. Observo, respiro e procuro perceber no meu corpo todas as sensações que surgem quando me foco no tema em concreto. Por vezes, registo numa folha tudo aquilo que estou a sentir, o registo escrito ajuda-me a compreender melhor. Registo se sinto ansiedade, medo, alegria, entusiasmo, desconforto, dor, etc… Observo tudo o que surgir, e procuro não fazer qualquer tipo de julgamento ou de critica, aceitando plenamente aquilo que é, da forma que surge.
5) Dialogar com a Emoção – Detetadas as sensações, emoções, sentimentos ligados à questão, é altura de dialogar com elas. Perguntando-lhes:
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- “O que me estás a mostrar?”
- “O que precisas e necessitas de mim?”
- “Que aprendizagens preciso fazer contigo?”
- “Que benefícios/ bênçãos me estás a trazer?”
Aconselho a que registes as respostas que surgirem de forma mais espontânea, o segredo destas práticas é pensar o menos possível, é questionarmo-nos, e quase instantaneamente registar aquilo que surgir. Se esperarmos demasiado tempo a mente começa a elaborar, e nessa altura podemos já não estar mais num diálogo com a nossa intuição, mas sim com a nossa mente. E a verdade pode ser deturpada quando permitimos que a mente tome conta do processo.
6) Resposta – Na maioria das vezes na prática do ponto anterior chego às respostas que procuro, chego à verdade. Se ainda ficar com algumas dúvidas, faço-me as seguintes questões: “O que é que me faz vibrar mais agora nesta situação?” “O que é que de melhor serve o meu caminho?”, “Onde é que quero estar?”, “O que é que faz sentido agora para mim, e para o meu contexto de vida?”. E o corpo automaticamente manifesta-se e segue o movimento da verdade, geralmente com todas estas perguntas, eu sou transportada para a verdade, para a certeza além da dúvida que antes poderia existir. Percebo claramente que a dúvida, o “não sei”, é um sistema de resposta automático perante o medo e perante o desconhecido, e quando digo “não sei” ganho tempo para conhecer o que ainda não conheço em mim e para mergulhar na introspeção que preciso fazer. Algumas vezes percebo que o “não sei” é simplesmente o medo de assumir a verdade de cada instante, pelo medo de não ser aceite ou acolhida pelos outros.
7) Assumir – Depois da resposta encontrada há que assumir para connosco mesmos essa verdade, e isso nem sempre é fácil, muitas vezes derrapamos aqui. Sabemos a verdade, mas não a queremos assumir, porque não queremos pagar o preço por isso. Quando decidimos algo importante há sempre um preço a apagar, há sempre algo que cai, que morre, que largamos, e há sempre algo que acolhemos, que escolhemos, que adotamos. E nestes processos de decisão por vezes assumir a verdade custa e é desafiante, seja por questões sociais, familiares, pessoais ou até inconscientes. Aqui não há muito a fazer, ou assumo, ou não assumo, o que é importante é perceber que qualquer uma das decisões me traz sempre a dinâmica do “preço a pagar”. Que preço estou dispost@ a pagar? Que riscos estou dispost@ a correr? O que é que é realmente mais importante para mim, a minha verdade, ou a dos outros? Digo que não, para agradar a alguém? Digo que sim, porque parece mais conveniente? O que é que me leva a não querer assumir a minha verdade?
Este é um tema nem sempre fácil, partilho contigo que durante muito tempo tinha medo em assumir a minha verdade. E mesmo sabendo as respostas, muitas vezes escolhia dizer que “não sabia”, ou então mentia, para não ter de assumir a minha verdade, e assim não ter de entrar em territórios desconhecidos. O que aconteceu foi que essa atitude me matou a cada momento, ficava depois a lidar com a dor por não estar a ser autêntica para comigo mesma. Até que um dia “dei um murro na mesa”, e disse, “BASTA! A partir de hoje, de forma amorosa e consciente, irei procurar ser sempre fiel a mim mesma e à minha verdade, mesmo que isso implique não ir de encontro às expetativas dos outros”.
E tem sido uma autêntica libertação viver assim. É fácil? Nem sempre é, muitas vezes é desafiante, mas hoje, eu escolho ser autêntica, se não gosto digo, se sinto digo, se mexe comigo digo, se escolho determinada coisa assumo, se quero algo pronuncio, etc…
É o que é, e sei que quando falo do coração e da autenticidade em mim, o que tenho a receber são apenas bênçãos. Mesmo que ninguém me entenda, é suficiente que eu me compreenda a mim mesma, e isso é significativo, os “não sei’s” aparecerem agora com cada vez menos regularidade e intensidade. E digo-te que este era um tema recorrente na minha vida, sempre me achei muito indecisa, confusa, perdida, principalmente quando se tratavam de questões emocionais, nas outras áreas da minha vida sempre fui mais decidida e autêntica, mas em assuntos do coração fazia a rasteira a mim mesma, a parte emocional assustava-me, tinha medo de me assumir, e então o “não sei” era a resposta de serviço. Podes refletir em que área ou áreas da tua vida é mais recorrente viveres o “não sei”. E dessa forma podes fazer mais trabalho de autoconsciência especificamente nessas áreas.
8) Agir em Conformidade – Assumo e depois ajo, tomo as decisões, faço as escolhas, atuo perante o que sinto, e perante o que é a verdade para mim naquele momento. Se existirem outras pessoas envolvidas diretamente no assunto, converso com elas e exponho a minha decisão e ponto de vista, é importante sempre o diálogo e a clareza do mesmo. Ajo com confiança e alinhada com a minha verdade, ajo em respeito por mim e pelos outros, e seja qual for a escolha, a resposta ou a decisão, o que importa é que se estou alinhada comigo, então esse é o caminho certo, não há como falhar… Podemos enfrentar desafios nele, mas se for aquele caminho que faz o meu coração vibrar, se for aquele caminho que me entusiasma, se for aquele caminho que todo o meu corpo grita “verdade”, então esse é o caminho… É natural que perante o novo, perante as novas decisões, perante a saída da zona de conforto, o assumir riscos, o aventurar-me em algo novo, surja o medo e a ansiedade, fazem parte. Aqui devo (re)descobrir a plena Confiança em mim e na Vida, confio e avanço, mesmo perante o medo, com coragem e determinação.
Não há receitas mágicas nem respostas definitivas para nada, momento a momento devemos autoanalisarmo-nos, devemos aprender a escutar o nosso corpo, a ler as nossas emoções e a compreender o nosso sentir… Só assim podemos aceder à voz da nossa intuição e perceber o que é realmente a nossa Verdade Interna.
E perante a Verdade Interna não há indecisões, há certezas. Podem ser certezas temporárias, mas são as certezas daquele instante. Vivermos no medo, na ansiedade ou na expetativa, causará sempre dúvida, indecisão e confusão. Não vamos deixar de sentir medo, ansiedade ou expetativas ao longo da vida, o que podemos fazer é escolher como agir quando isso surgir. Deixamos que tome conta de nós, e dessa forma petrifica-nos, paralisa-nos e causa-nos mais confusão e dor? Ou escolhemos olhar para isso, perguntar o propósito de estar ali, e através do medo, navegarmos até à margem daquilo que é a nossa verdade?
E esta é a grande diferença, o escolhermos entre ficar presos no medo, na dúvida, na indecisão, nas ilusões, nas expetativas, ou darmos um salto para dentro, escutar essas emoções em nós, dar-lhes voz, e compreender o real fundamento de se manifestarem. Pois por detrás de cada uma destas “disfunções”, estão verdades a aguardar o momento de serem reconhecidas e reveladas em nós e por nós. Mas lembra-te também que um sincero e humilde “não sei”, num dado momento, pode ser a porta que abre o caminhos das infinitas possibilidades.
Se tens alguma questão hoje na tua vida de maior confusão ou indecisão, se não sabes a resposta a determinada “coisa”, convido-te a que agora mesmo te possas dar esse tempo de diálogo interno, e te permitas escutar a voz do teu coração, a voz que te diz sempre a verdade e que tem as respostas. E depois, assume para contigo mesm@ essa verdade e honra-a, manifestando aquilo que reflete o teu mais autêntico ser. Não tenhas medo de te assumires e de seres quem realmente És, lembra-te de respeitares sempre a ti e aos outros, mas não deixes de assumir plenamente a tua autenticidade.
Estamos em tempos que nos pedem isso, a vida está a pedir-nos que sejamos cada dia mais autênticos connosco mesmos, com os outros e com a própria vida. Que assumamos de uma vez por todas o nosso brilho e a nossa luz, que possamos honrar os nossos caminhos e propósitos, independentemente da forma como esses caminhos se parecem construir. Todos os caminhos trazem desafios e aprendizagens, e se é para vivê-los, que seja por aqueles que realmente nos devolvem sentido e realização.
Abraça o medo como teu amigo, ele relembra-te que também gostas de segurança, mas só podes realmente viver quando escolhes avançar para lá da zona de conforto. Sem risco, sem avanço, não há experiência, não há fluxo novo a entrar, não há renovação da vida. Ir além do que vejo como seguro é fundamental ao cumprimento da nossa Alma. E no melhor possível, sempre enraizad@ no momento presente, sem fugirmos para as memórias do passado ou para as expetativas que não existem do futuro. Viver no Agora é construir o futuro, mas sem ficar preso na ideia do que ele será.
Espero que este artigo te tenha ajudado de alguma forma. Se me quiseres contactar podes fazê-lo para o email: claudiamachado@claudiamachado.com
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Um Presente Abraço, e que todos os “não sei’s” da tua/nossa vida sejam portais para a consciência em Ti e em Nós,
Em Amor,
Cláudia Machado
Astróloga e Terapeuta Transpessoal
“Fazendo aquilo que tememos, dissolvemos o nosso temor.”, Emerson